Consumo de álcool e seus efeitos no desempenho escolar

Abstract

O consumo de álcool e o insucesso escolar são dois dos maiores problemas com que os jovens se vêem, desde há muito, confrontados em vários países e, de modo particular, em Portugal. Embora esses dois problemas apareçam frequentemente associados, pouco se sabe ainda, ao certo, sobre o sentido dessa relação. O objectivo deste estudo é analisar os efeitos de diversos padrões de consumo de álcool sobre o desempenho académico na adolescência, em Portugal. Utilizaram-se para esse efeito os dados de um estudo longitudinal em que uma amostra de alunos das escolas públicas do ensino básico de Coimbra foi seguida desde os primeiros anos do ensino básico até aos 17-18 anos de idade. As informações sobre o consumo de álcool foram recolhidas através da resposta a quatro perguntas inseridas num questionário de auto-avaliação de comportamentos anti-sociais. Por sua vez, as informações sobre o desempenho académico foram obtidas por meio de uma entrevista aos jovens aquando da sua avaliação aos 17-18 anos e através de dados recolhidos nas escolas que, no follow-up, eles frequentavam. Os resultados revelaram que o consumo de álcool já ocorria com alguma frequência nos primeiros anos do ensino básico, aumentando progressivamente, com a idade, até se tornar um fenómeno quase normativo no fim da adolescência, sobretudo entre os rapazes. No que se refere aos efeitos negativos do consumo de álcool, não se encontraram diferenças significativas no desempenho escolar entre os que nunca consumiram álcool e os que o experimentaram alguma vez. Além disso, quando se compararam os indivíduos que apresentavam padrões de consumo mais graves (v.g. consumo de início precoce, embriaguez ou consumo persistente) com o resto da amostra, obtiveram- se diferenças estatisticamente significativas a nível das repetências; mas essas diferenças desapareciam uma vez controlado o efeito de outros factores da infância, designadamente as dificuldades de aprendizagem reportadas pelos professores ou os problemas de atenção. No conjunto, estes resultados parecem apoiar a ideia de que o consumo de álcool, sobretudo o consumo ocasional e moderado, não afecta significati- vamente o desempenho escolar dos jovens. Seria interessante verificar se este padrão de resultados se mantém quando se estudarem formas mais graves de consumo de álcool, designadamente nos casos de dependência ou alcoolismo juvenil, ou quando avaliaram novamente os mesmos indivíduos no início da idade adulta.

La consommation d’alcool et l´insuccès scolaire représentent deux défis importants pour les jeunes d´aujourd´hui en plusieurs pays. Mais quoique les deux problèmes apparaissent fréquemment associés chez les mêmes individus, le sens de cette relation reste encore à expliquer. L´objectif de cette étude est analyser les effets de différents tendances de consommation d´alcool sur la réalisation scolaire pendant l´adolescence, au Portugal. On a utilisé, pour cela, les données d´une étude longitudinale, dans laquelle un large échantillon d´élèves des écoles publiques de Coimbra a été suivi, dès les premières années de l´école primaire jusqu´à 17-18 ans, âge auquel ils devraient finir le lycée. Les informations sur la consommation d´alcool étaient recueillies à travers les réponses à quatre questions d´un questionnaire de comportements anti- -sociaux. Les informations sur la réalisation scolaire (ou plutôt sur l´échec) étaient obtenues à travers d´une interview aux participants dans cette étude, quand ils avaient l´âge de 17-18 ans, si bien qu’à travers des renseignements obtenus auprès des dernières écoles qu´ils avaient cependant fréquentées. Les résultats on montré qu´il y avait de la consommation d´alcool déjà dans l´école primaire, ce qui augmentait avec l´âge, pour devenir un phénomène presque normatif à la fin de l´adolescence, surtout parmi les garçons. En ce qui concerne les effets de l´alcool, on n´a pas trouvé des différences statistiquement signifiantes entre ceux qui n´ont jamais bu (abstinents) et ceux qui confessaient avoir bu quelques fois, dans la réalisation scolaire. En outre, quand on a comparé ceux qui avaient des tendances plus graves de consommation (précoce, intense ou persistante) avec le reste de l´échantillon, on trouvait des différences signifiantes dans le nombre d´années doublées; mais elles disparaissaient quand on contrôlait l´effet d´autres facteurs de l´enfance, tels que les difficultés d´apprentissage ou les problèmes d´attention signalés par les enseignants à l`école primaire. Ainsi, ces résultats semblent appuyer l´idée que la consommation d´alcool par les jeunes gens (surtout la consommation expérimentale ou occasionnelle) n´affecte pas leur réalisation scolaire. Il serait intéressant de vérifier, maintenant, si la même tendance de résultats apparaît quand on étudie des formes plus graves de consommation d´alcool, notamment des cas de dépendance ou d´alcoolisme juvénile, et quand on examine ces mêmes individus, plus tard, à l’âge adulte.

Alcohol use and school underachievement are two important challenges for youths in many countries. Although both problems often appear associated with each other, so far little is known about the meaning and direction of this relationship. In this paper, we aimed to examine the effects of several patterns of serious drinking on the academic attainment across adolescence, in Portugal. Data were drawn from a longitudinal study in which a large sample of boys and girls were followed-up from the early grade levels in elementary school until the age of 17-18 years, when they were expected to graduate from secondary school. Information on alcohol use was gathered through several items included in a questionnaire of self-reported antisocial behaviour, whereas data on academic attainment were obtained through several items of an interview administered to the participants in this study, at the end of adolescence, or from the last schools they attended during the follow-up. Results showed that alcohol drinking was already present in the elementary school and increased with age/grade level, to become almost normative at the end of adolescence, particularly among males. As to the negative effects of alcohol use, there were no significant differences in academic attainment between those who abstained form drinking and those who experimented alcohol sometimes during adolescence. In addition, when we compared groups involved in more serious patterns of drinking (e.g. early starters, intensive drinkers or persistent drinkers) with their peers, there were some significant differences in grade retentions, which disappeared when we controlled for other childhood factors such as early learning difficulties or attention problems reported by teachers, in elementary schools. Altogether, the findings of this study do not provide strong support to the view that alcohol use in childhood and adolescence has a direct negative effect in academic achievement. It would be interesting to examine whether the same pattern of results will be found in groups with more serious forms of alcohol use (e.g. alcohol dependence and juvenile alcoholism) or when we assess the same people in their early adulthood.