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https://hdl.handle.net/10316.2/37872
Title: | O problema xxx e o tratamento da condição melancólica em Aristóteles | Authors: | Carvalho, Cláudio Alexandre S. | Keywords: | Medical Philosophy;Melancholy;Therapy;Eukrasia;Genius;Filosofia médica;Melancolia;Terapia;Eukrasia;Génio | Issue Date: | 2015 | Publisher: | Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Filosóficos | Abstract: | O Problema XXX foi objecto de múltiplas interpretações suscitadas
pelo seu pressuposto basilar segundo o qual todos homens capazes de performances
excepcionais teriam em comum o facto de serem melancólicos. No artigo presente
explora‑se
a ideia de que tal tese, em grande medida inédita e em descontinuidade
com a obra de Aristóteles, dá a ler certos princípios da abordagem terapêutica da
condição melancólica. De modo congruente com a obra aristotélica, a forma trivial
de melancolia ‑
congénita ou adquirida‑
afecta as faculdades perceptivas, cognitivas
e morais, sendo origem de perturbações do comportamento e sofrimento mental. Tal
condição, que remete para um excesso de bílis negra sendo abordada sem sistematicidade
em vários pontos do Corpus Aristotelicum, requer medidas profiláticas pois
suas variantes letais são assintomáticas e de manifestação súbita. Já enquanto condição
crónica exige constante vigilância relativamente àquilo que poderá afectar um
equilíbrio sempre sob ameaça. No presente artigo mostra‑se
como essa observação
terapêutica do melancólico segue a fixação de um quadro nosológico alternativo ao
das teorias médicas constantes do Corpus Hippocraticum, ainda que mantenha com
o mesmo afinidades genéricas, nomeadamente quanto aos modos de reequilibrar a
mistura (krasis) dos humores, explorando as potencialidades do organismo e das
substâncias. Algumas divergências podiam ser já encontradas nos diálogos platónicos
onde o método hipocrático de análise da natureza humana é elogiado. Aristóteles
e o autor dos Problemata Physica apresentam uma caracterologia do temperamento
que se tece através de analogias várias com a ética, em especial com o tema da
constituição e aperfeiçoamento do carácter, o qual permaneceu na orla da psicoterapêutica
e da psicagogia antigas. A ideia de que uma constituição instável e conotada
com padecimentos vários seja a condição para atingir a genialidade, parte de características “ethopoieticas” conjugadas num excepcional equilíbrio fisiológico. A par
do inquérito em torno da potencialidade das substâncias e da problemática divisão
entre o são e o patológico, o tema do papel do observador do equilíbrio fisiológico,
emocional e ético permanece latente ao longo do Problema XXX e surge em várias
observações do próprio Aristóteles. A não sobrevivência de um texto dedicado em
particular à medicina, o Ἰatrika, torna o Problema XXX num documento essencial
para estabelecer as pontes necessárias entre a physikē, atida à teorização da biologia
dos seres vivos e a iatrikē cuja prioridade é o restabelecimento individual por meio
de métodos de intervenção no equilíbrio do corpo. Problem XXX was object of various interpretations raised mostly by its basic presupposition according to which all men capable of extraordinary performances were melancholic. In the present work, we draw on the idea that such thesis, mostly unprecedented and discontinue with Aristotle’s work, provides a reading of certain principles of the therapeutic approach towards the melancholic condition. In accordance with the Aristotelian oeuvre, the trivial forms of melancholy, congenial or acquired, disturb perceptive, cognitive and moral faculties, being source of behavioural disturbances and mental suffering. Such condition, characterized by an excess of black bile is approached in a non‑systematic way along the Corpus Aristotelicum, requires prophylactic measures since its lethal variants are asymptomatic and abrupt, but as a chronic condition it demands constant surveillance toward what can affect an always‑threatened balance. The present article shows how such therapeutic observation of the melancholic follows the founding of a nosologic framework, alternative to the medical theories affiliated with the Corpus Hippocraticum, despite holding some generic affinities with some of its treatises, concerning ways to reset the mixture (krasis) of humours by exploring the potentialities of the organism and the qualities of the substances. Some divergences could already be found in the platonic dialogues, where the Hippocratic method of analysis of human nature is praised. Aristotle like the author of Problemata Physica presented a classification of temperaments weaved through various analogies with ethics, and especially with the theme of the constitution and perfecting of character, that will remain at the edge of psychotherapy and psychagogy along antiquity. The idea of a constitution considered instable and associated with various illnesses as the condition to achieve geniality, departs from “ethopoietic” characteristics aligned in an exceptional physiological balance. Along with inquiry on the potentiality of substances and the problematic division between health and pathology, the theme of the observer of the physiological, emotional and moral equilibrium remains latent along Problem XXX, and appears in different Aristotle’s writings. Given the loss of a text presumably devoted to medical themes, Ἰatrika, turns Problem XXX a document essential to bridge between phusikē, concerned with theorizing of living being’s biology and iatrikē whose priority is assist and reestablish the individual through methods of intervention in bodily equilibrium. |
URI: | https://hdl.handle.net/10316.2/37872 | ISSN: | 0872-0851 | DOI: | 10.14195/0872-0851_47_2 | Rights: | open access |
Appears in Collections: | Revista Filosófica de Coimbra |
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