A literatura de propaganda colonial no Portugal contemporâneo vintecentista

Abstract

Uma das melhores estratégias para estimular o interesse pela preservação do património imperial português foi a criação de concursos e prémios literários. De facto a literatura colonial, nas suas múltiplas vertentes que iam desde as narrativas de viagem aos relatos de missionários e funcionários administrativos, servirá para fazer a divulgação da ideia de império, sobretudo a partir dos finais do século XIX. Instituídos em 1926, ao tempo do Dr. Armando Cortesão, como primeiro Agente Geral das Colónias, a duração destes concursos estender-se-ia até 1951, sendo substituídos, a partir de 1954, por um conjunto de quatro prémios literários, que passamos a destacar: prémio "Camilo Pessanha", de poesia; prémio "Fernão Mendes Pinto", de novelística; prémio "João de Barros", de história; prémio "Frei João dos Santos", de ensaio. Em 1969 foi acrescentado a estes prémios um outro, o de reportagem, com a designação de "Pêro Vaz de Caminha", em homenagem ao autor da "Carta'' da descoberta do Brasil. Durante o periodo em que os concursos estiveram vigentes, (1926-1974), passara-se duma 1.a fase de influência republicana, do exotismo ideológico da valorização do indigena (1926-1931), para uma 2.a fase, a do "Império", do exotismo pitoresco das "raças escravas" que reflectiam a superioridade do etnocentrismo civilizacional e evangelizador do colonizador (1932-1951). Na 3.a fase, a partir de 1954, dado que em 1952 e 1953 não houve concursos, as modalidades literárias foram reorganizadas e a ideologia dominante na atribuição dos prémios passaria a ser regida por uma perspectiva paternalista emergida das concepções lusotropicalistas teorizadas pelo sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, em fraternidade cristã, a racial e a empatia com os indígenas seriam pressupostos a ter em conta na avaliação das obras a concurso.

Une des meilleures stratégies afin de stimuler l'intérêt vis-à-vis la préservation du patrimoine impérial portugais fut la création de concours et de prix littéraires. En effet, la littérature coloniale, sous ses multiples formes qui allaient des récits de voyage aux récits de missionnaires et de fonctionnaires adrninistratifs, servait à faire la promotion de l'idée d'empire, surtout à partir de la fin du XIXe siècle. lnstitués en 1926, du temps du Dr. Armando Cortesâo, en sa qualité de premier Général des Colonies, la durée de ces concours s' étendrait jusqu'en 1951, étant par la suite remplacés, à partir de 1954, par un ensemble de quatre prix littéraires, nous soulignons: prix "Camilho Pessanha", de poésie; prix "Fernão Mendes Pinto", de récirs; prix "João de Barros", d'histoire; prix "Frei João dos Santos", d'essai. En 1969, un autre prix s'est ajouté, celui du reportage, designé "Pêro Vaz de Caminha", en hommage à l'auteur de la "Charte" de la découverte du Brésil. Durant la période pendant laquelle les concours étaient en vigueur, (1926-1974), nous sommes passés d'une 1ère phase à influence républicaine, de l'exotisme idéologique de la valorisation de l'indigène (1926-1931), à une 2ème phase, celle de "l'Empire", de l'exotisme pittoresque des "races esclaves" qui reflétaient la supériorité de l'ethnocemrisme de la civilisation et l'évangélisation du colonisateur (1932-1951). Dans la 3ème phase, à partir de 1954, étant donné qu' en 1952 et 1953 il n'y eut pas de concours, les modalités littéraires furent réorganisées et l'idéologie dominante dans l'attribution des prix serait désormais régie par une perspective paternaliste issue des conceptions luso-tropicaliennes théorisées par le sociologue brésilien Gilberto Freyre, où la fraternité chrétienne, l'égalité des races et l'empathie avec les indigènes seraient des présupposés à prendre en compte dans l'évaluation des ouvrages soumis au concours.

One of the best strategies for generating interest in the maintenance of the Portuguese empire was the creation competitions and prizes. In fact colonial literature, in its multiple forms that ranged from travel narratives to reports by missionaries and civil servants, would serve to advertise the idea of empire, especially as of the end of the 19th century. Introduced in 1926, during the time Dr. Armando Cortesão was first General Agent for the Colonies, these competitions would last until 1951. From 1954, they would be replaced by a set of four literary prizes: the "Camilo Pessanha" prize for poetry; the "Fernão Mendes Pinto" prize for novels; the "João de Barros" for history; and the "Frei João dos Santos" for essays. In 1969, a further prize for reporting was added, named the "Pêro Vaz de Caminha" prize in homage of the author of the "Letter"informing of the discovery of Brazil. During the period in which the competitions ran (1926-1974), they passed through a first phase of republican influence, of ideological exoticism that valued the indigenous inhabitant (1926-1931), to a second phase of "Empire", of picturesque exoticism portraying the "enslaved races" and reflecting the superiority of the coloniser's civilisational and evangelicising ethnocentricity (1932-1951). The third phase, after 1954, given that there were no competitions in 1952 and 1953, saw a reorganisation of the literary categories. The dominant ideology governing the award of the prizes would come to be governed by a paternalistic outlook that emerged from the "luso-tropicalist" ideas of Brazilian sociologist Gilberto Freyre, in which Christian brotherhood, racial equality and empathy with the indigenous peoples were assumptions to be taken into account when evaluating the works submitted.